tenho acompanhando atentamente as consequências causadas pela pandemia na famigerada área gastronômica pela qual atuo desde o final do milênio passado. a sensação de impotência é monumental e a empatia pelo elo mais frágil da corrente é inevitável. porque se tá ruim pro empregador – e nunca esteve tão ruim, creia-me – imagine então a situação do ajudante de cozinha.
mas não é de hoje que a reclamação geral dos colegas empreendedores se refere à cada vez mais escassa mão de obra especializada. ninguém quer mais ser garçom, cumim etc.
a situação é caótica. é um tal de bartender que se recusa a abastecer a geladeira de cerveja pra cá e cozinheiro que acha que não precisa lavar louça pra lá que você não iria acreditar.
poderia passar essa postagem inteira apontando para situações como as expostas no parágrafo anterior, mas não serei redundante.
porque o quero dizer é que essas ocorrências não são mais que sintomas de uma sociedade de terceiro mundo que não deu certo.
ora, bolas. se um médico tem mais valor que o faxineiro é sinal de que há algo de podre no reino da dinamarca. serviço é serviço e ninguém é melhor que ninguém.
e, quando o prestador de serviço de um restaurante não se sentiria bem na hipotética situação de ser servido no mesmo, a revolta é natural e previsível. essa raiva vem se acumulando na garganta do trabalhador brasileiro há séculos.
então não estranhe se em certo dia dum breve futuro o motoboy entregar apenas as bordas da pizza de 3 dígitos que pediste no conforto do seu lar.
porque além de empreendedor escroto o que mais tem é gente que saía de casa pra brigar com garçom e agora desconta seus problemas pessoais em motorista de aplicativo.
a real é que a conta tá na nossa mesa. com atraso, mas chegou.
como é que faz pra pagar? bem, tratar direito todos ao nosso redor já é bom começo. e aqui peço para que tenha especial atenção a quem de alguma maneira esteja te servindo.
aproveito pra dizer que leio absolutamente todos e-mails que chegam por meio dessa newsletter.
porque quem está aqui para lhe servir nesse caso sou eu. toda segunda um texto de quinta.
boa semana, camaradas.
Discuti exatamente isso hoje com familiares ao receber uma pizza que demorou a chegar e chegou exatamente na hora do temporal. “Demorou? Agora ele que espere”. Caramba, o cara já ta trazendo na sua casa, ganha uma merreca e ainda vamos deixá-lo na chuva por birra? Bom que todos concordaram em atender prontamente o entregador e aquela reação inicial não passou de um descarrego emocional entre pessoas que prezam pelo respeito ao próximo; principalmente aos que te servem como bem diz o texto. Forte abraço, brother!
Belo texto, com uma reflexão importante para todos enquanto sociedade.
Em tempo, se ainda há para a sua leitura. Um mantra que gosto de repetir para todos:
“Não adianta fazer yoga e não dar bom dia ao porteiro”.
Otimo texto jota.
JB me indica cafés legais para comprar, por favor.