faz um tempo já, quando morava perto da praça da república, próximo a um famoso bar especializado em quitutes suínos, onde inclusive cheguei a realizar sigiloso trabalho etílico
sigiloso porque fato é que não é todo mundo que aprecia associar sua própria imagem a minha pessoa
não é de hoje que tantos me tratam como aquele que adoram concordar em privado mas preferem distância quando se trata de qualquer compromisso mais sério. se for público, então, há quem me veja como doença contagiosa
mas, focando no que quero contar. fato é que naquela tarde nublada pré-pandêmica eu tava passeando com o dog no fim de tarde e me deparei com aquela figura que pode parecer excêntrica para muitos na rua paquerando o corpo do porco estendido na vitrine
além do meu inglês ser desastroso, não sou muito de tietar as pessoas e de maneira instintiva fiquei estático a poucos passos dele
por poucos minutos nossa silenciosa sintonia métrica foi impecável
eu, o dog, tim burton e o porco
a energia do realismo fantástico contemporâneo era tamanha que por breve instante tivemos a certeza da impressão de que poderíamos provocar considerável estrago no mundo, quiçá voltarmos a ser perigosos, uma ameaça à sociedade careta de pulôver que gosta de tratar o (cada vez mais) abandonado centro como um pitoresco simba safari
o que só não ocorreu porque fomos interrompidos por sua produção que logo tratou de leva-lo ao interior do bar
embora tivesse trânsito pra entrar preferi seguir do lado de fora o observando por outro ângulo. notei que embora ele tenha sido educado com todos em sua volta a situação já havia sido desencantada
não esperei ele ser servido, imagino que tenha gostado, boa comida por lá.
segui o passeio canino, parei pra tomar um mate com limão batido sem açúcar na famosa cafeteria de um prédio histórico e logo já estávamos de volta no edifício por onde moramos por mais de cinco anos
repare no que ocorre na sua vizinhança. pode ser que seu cotidiano seja mais mágico que aparenta
Ótimo texto!