nunca fui muito bem-sucedido com relacionamentos e hoje me limito a cuidar de algumas plantas de apartamento e de um adorável cachorrinho que não abana o rabo pra mim
esse que por sua vez se tornou meio que uma celebridade aqui no pedaço onde habitamos
equipes e freguesia de bares, cafeterias, biroscas e restaurantes adoram brincar com o bichinho que se mostra tão feliz que às vezes tenho a impressão de que ele tá pedindo por socorro
afinal não sei se é a coisa mais agradável do mundo morar com quem NÃO se comunica com voz infantil ao chamar para passear
sou o tipo de chato que trata cachorro como um humano adulto
exemplo. quando dou sua comida, falo com ele como se fosse um garçom
mais ração, senhor? a porção de hoje à noite acompanha probiótico
conviver comigo nunca foi divertido e se bichos e plantas ainda sobrevivem é simplesmente porque a vida não ofereceu oportunidades mais razoáveis
mas, se por um lado as plantas agonizam entre pouca água e a sombra da morte, o dog tem a sensibilidade de oferecer um carinho possível
ele dorme comigo à noite bem no meio da cama e também em cima da minha cabeça na sagrada hora da siesta
enquanto escrevo essas parcas letras o bichinho repousa sobre meus pés, como é rotineiro
e melhor companhia de bar não há, com direito a me alertar sobre o horário de partida mais adequado
tudo isso pra dizer que o fato de talvez a pessoa que você mais gosta não demonstrar afeto de maneira mais efusiva que um atendente de cartório isso não é sinônimo de falta de amor ou ausência de empatia
cada um tem seu jeitinho pessoal e intransferível de se expor e infarto do miocárdio vem de fora pra dentro, não o oposto
se nos entendermos com tolerância e bom senso, viveremos de maneira mais saudável
e viva nossas diferenças. até porque se tivesse muitos seres parecidos comigo o mundo seria bem insuportável
que zeus nos dibri de vivermos tal como monótonos pares de vaso