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tem cigarro aí?

o processo é essencialmente composto de erros e azares que nos leva a derrotas e fracassos. o que destoar disso é por conta de acidentes de sorte

trabalhei 6 dias na postagem da semana passada e o que ocorreu na hora da publicação? um burger smash up involuntário de texto antigo no meio da parte conclusiva, o que deixou o troço quase inteligível

o mais engraçado é que, entre milhares de assinantes, apenas uma pessoa me escreveu apontando o erro grosseiro

a real é que ninguém liga, ninguém se importa. se eu morresse no apê e o dog fizesse greve de latido, demorariam semanas pra achar meu corpo fétido

se o processo não fosse tão importante, poderia arriscar dizer que essas notas não têm sentido de existir

calma, beth, calma

ainda estou por aqui e não tenho interesse em partir tão cedo, embora ache que não dê mais tempo do conjunto da obra atingir nível satisfatório para a plateia

e tudo bem, pois o dia em que tudo estiver em sintonia fina aí sim perde-se o sentido da existência. então dá-lhe processo sinédoqueano (apud charlie kaufmann)

mas o que quero lhe contar nessa semana é sobre o poder que tenho em não ouvir direito quem tem mais sabedoria, dom que pode levar a erros gigantescos

nunca gostei de fumar nada, mas tem 2 seres capazes de me levar pra fumar um cigarrinho de palha. mesmo assim pelo hábito contemplativo, não pelo fumo em si

uma das pessoas eu vejo muito pouco e a outra infelizmente já bateu as botas. ou como dizem em razoável umbandês arcaico, foi oló

e é sobre quem não está mais aqui que quero falar

artista plástico de talento inenarrável, herói nacional no méxico e esposo da não menos admirável cocinera atrevida, morava e trabalhava no mesmo bairro em que eu comandava um restaurante do qual ele era freguês

e era sempre em uma de nossas casas que compartilhávamos cigarros de palha, após uma cachaça ou um tequila, dependendo do logradouro escolhido

numa dessas ocasiões vivíamos os idos de 2009, quando meu blog gastronômico estava no auge, com cerca de 30000 visualizações diárias e o começo de um movimento de ódio por parte de chefs que produzem comida ruim que iria culminar na covarde campanha de cancelamento cujo auge ocorreu no primeiro semestre do ano passado, quando envelheci 10 anos

voltando a 2009, enquanto fumávamos na rua dos cariris ele me alertou:

júlio. você usa o nome das pessoas de maneira muito direta e isso só serve pra criar inimizades, é inevitável que volte contra ti. nunca deixe de ser bélico, mas mude essa estratégia, usando termos e exemplos mais plurais. além de ser mais efetivo, tua voz terá o alcance merecido.

do baixo da minha imaturidade não o ouvi e não há um dia sequer em que não pense nisso. claro que suas palavras se tornaram proféticas e perdi todas batalhas e guerras que travei

fato é que agora em abril de 2023 tento me comportar de outra maneira. isso dentro de minha limitação, evidente. sigo sem ter sangue de barata

produziria novamente todo o conteúdo que pari, mas com linguagem distinta, outras letras, outras cores

hoje tudo que escrevo sobre gastronomia etílica é contigo na cabeça e no coração, felipe ehrenberg

e você? já deixou um mestre no vácuo e se arrependerá por isso até o fim dos seus dias?

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