enzo é fã de realitys shows e cursa gastronomia numa faculdade com professores biodesagradáveis
às quintas participa com sua irmã victoria de um grupo de estudos sobre biomas e fermentação natural
aos fins de semana dedica-se a produção caseira de cervejas artesanais, ipa de preferência, feita com lúpulos canadenses muambados pela sua tia maria eduarda
o piso do salário de cozinheiro é menos da metade que a mensalidade da facu, mas seu pai empreiteiro já garantiu que montará um restaurante sustentável com algumas centenas de milhares de reais, dinheiro de troco pro velho
por enquanto enzo procura saber como lidar com o moinho de milho recém-adquirido, embora ainda não saiba fazer bom pão
o imóvel do futuro estabelecimento na vila madalena já foi alugado e no momento é discutido de que maneira trabalharão com energia solar
os pedreiros estão eufóricos. com esse abre/fecha de bares e restaurantes o que não falta é trabalho
não se sabe bem ao certo o que se servirá no comedouro, mas certo é que terá tendência orgânica vegana
a carta de vinhos já foi elaborada por paulo silveira e só terá rótulos naturais, sem se deixar afetar pelo retrogosto de odor de peido de gambá que a garrafa pode oferecer.
os clientes gostam de apostar. se não gostarem da bebida, a gente fala que ele não entendeu a probosta! – diverte-se silveirinha
tobias anota todos detalhes com atenção para organizar o branding que deve entregar após o próximo brainstorm entre os sócios envolvidos
não é real, mas é. no brasil o que mais tem na cena gastrocômica é gente fingindo que serve quem finge que bebe e come
bandeira importa mais que o produto oferecido. e quem achar ruim é tratado como inimigo do planeta, mesmo que o cozinheiro da espelunca não saiba falar lé com cré
a arrogância da nova geração eco-bag tornou insuportável, embora seja devidamente sustentável
quem fala em comida de verdade não tem o menor senso de noção da realidade do comensal
militante vegano nenhum tem o direito de criticar a lingüiça do prato feito do trabalhador
e você? quantos enzo sem a menor consciência de classe tu conhece? porque aqui pra minhas bandas issaê é mato!
e no fundo do poço há um alçapão