sempre me perguntam quanto tempo demoro pra escrever um livro e a resposta é que um processo é diferente do outro
o último titulo publicado, por exemplo
começou como a ideia de um singelo almanaque com crônicas, receitas e desenhos de um amigo querido
quando tava quase pronto veio a peste pra nos desmotivar a fazer qualquer lançamento festivo
acontece que segui escrevendo, o parça seguiu desenhando, outras pessoas amigas se juntaram ao processo e o resultado final foi o livro mais legal que já publiquei. total de tempo do processo: 3 anos
após bom desempenho na pré-venda é chegada a época de breve tour de lançamento quando de cara descartamos norte e nordeste devido ao alto custo da operação, em especial no que se refere a passagem aérea e hospedagem
aqui aproveito pra dizer que literatura no brasil só dá dinheiro se seu nome começar com paulo e terminar com coelho e que o autor é o elo mais frágil da rede, ganhando na maior parte das vezes apenas 10% de comissão sobre o preço da capa
após cumprir meu papel social lançando o escrito em pequenas livrarias de rua – que também se fodem um tanto – fiz um acordo com a editora comprando eu mesmo os livros e aumentando a comissão para 50% vendendo em bares, cafés e biroscas
me sentindo praticamente o saudoso plínio marcos, de quem já tive a honra de comprar livros em porta de bar
trabalho de formiguinha. em são paulo às vezes até sobrava algum e fora da cidade com sorte pagava-se as despesas de viagem
tudo quase certo até o tribunal de justiça bloquear minha conta bancária por conta de uma causa trabalhista de 2011 de uma pessoa que trabalhou poucos meses na minha última firma aberta. aí a coisa apertou
a última parada da tour foi a mais que querida curitiba, cidade que me recebe tão bem e da qual gosto tanto
fizemos frango frito, estreei vergonhosamente na carreira de stand down show e bebemos um punhado de jerez
só faltou combinar com o correio pra entregar os livros até o dia do evento
chegamos a ir em 2 agências e a informação mais confiável é que as caixas estavam em cajamar, aquela cidade ao lado de caieiras, onde dom raulzito foi detido sob a acusação de ser impostor de si mesmo
o conforto e a tolerância das testemunhas do mico me fizeram bem, além do profissionalismo e bom humor dos donos do estabelecimento. pois no fim o que faz a diferença é o nível de nosso contorno
também passei alguns perrengues no rio de janeiro e em belo horizonte, mas sobre isso conto outra hora
a ideia da newsletter dessa semana é cumprir a função de justificar o sumiço das últimas duas semanas
é que do lado de cá a coisa não vai muito bem e venho pensando numa maneira de me reorganizar, quem sabe emergir dentro desse mar de derrota. espero que por aí a caminhada esteja menos dura
mas, se der ruim, sempre teremos cajamar.