gosto da ideia de achar que já fui relevante no cenário gastrocômico brasileiro e, modéstia às favas, sei que marquei alguns gols, elevei um tanto a régua da porra toda e melhorei a vida de uma cambada de gente, desde o comensal até profissionais da área
hoje me dedico a colecionar textos não escritos por 4 razões que te conto a seguir
1 – por mais daora que tenha sido o rolê, é preciso reconhecer a derrota. perdi absolutamente todas batalhas que travei. a indústria tá cada vez mais forte e os inimigos cada vez mais poderosos
2 – eu não tenho estômago pra novos prováveis inimigos, que por muitas vezes se unem aos antigos, palestrando sobre comida de verdade, ignorando por completo consciência de classe e capitalizando em cima de todas bandeiras possíveis. hoje todes querem uma minoria pra chamar de sua. nunca a cotação das consoantes foi tão alta. a onda woke é inimiga número 1 do pensamento crítico e a geração zzzzz parece pouco interessada em despertar.
3 – manifestações de natureza crítica atraem o universo descrito nos itens 1 e 2 e mais um pouco. no brasil do presidento janjo, é muito fácil ser confundido com simpatizante daquele demônio inelegível. e não tô afim de receber piquete com gregório duvivier lacrando na porta de casa. posicionamentos públicos nem sempre andam de mãos dadas com veracidade de fatos. se tem alguma dúvida disso, siga o caminho do dinheiro com a devida atenção. político é inimigo público e hoje tudo é uma coisa só junto e misturado. se eu puder dar uma dica nesse segmento ela se limita a sugerir que se faça pequena reportagem antes de votar nas próximas eleições. palavra de quem já foi usado como fantoche por movimento social que não moveu uma palha por mim quando mais precisei. o círculo sempre se fecha
com o fim do pensamento crítico e a morte do jornalismo – o gastronômico morreu no mundo antes de nascer no brasil – o cenário atual é aterrorizante e deve piorar mais
além das premiações cada vez mais constrangedoras, onde gente da área vota em si mesma, num mundo de tapinhas nas costas sem fim, abortos de críticos instagrameiros que saem de casa com o ralo propósito de apenas causar e tik tokers dos piores vídeos do mundo vem nos lembrar que no baixo do fundo do poço tem um alçapão
o brasil é o abismo que nunca chega <= assim diz fausto fawcett, um dos últimos grandes. difícil discordar do mestre
eu sigo por aqui, à margem mas de olho em tudo isso. hoje acho que vou atrás de uma boa torta de limão. aceita uma fatia?
beijo e até a semana,
j.