a boa experiência num restaurante deve mexer positivamente com seus cinco sentidos, sendo que o último é o paladar. até porque se a comida for ruim, ela derruba a trabalheira toda que se teve antes.
pra mim o primeiro sentido aguçado é o da audição. cantina tem que ser barulhenta, bar tem que ter som de copo e por aí vai.
música ao vivo? a prefiro em casas de shows, jamais no logradouro escolhido pra comer e beber. foi mal, djavan.
mas que o som ambiente é importante pra porra, isso é. deve ter equipamento de qualidade, repertório coerente e altura que não incomode sua concentração.
há poucos meses fui num dos meus restaurantes preferidos e o som ambiente prestava o mesmo inestimável serviço humorístico involuntário de sempre, só que um pouco mais alto, já que aparentemente na data da visita alguém da equipe quis compartilhar com a freguesia seu apreço por antigas canções, tais como coração de estudante, entre outras pérolas que fariam corar a dona alpha fm.
meu incômodo foi tamanho que trabalhei os quatro dias e quatro noites seguintes numa playlist onde botei o que achava que seria legal tocar no local e presenteei o casal de sócios que me agradeceu com toda educação do mundo, mas nunca colocou o set pra rodar no salão.
derrota das boas
pouco tempo depois fui no restaurante de uma velha amiga e grande cozinheira. não tinha ido lá ainda no período pandêmico e fui recebido com surreal bosta & longe saído das pequenas e maltratadas caixas acústicas. felizmente a comida estava impecável, mas o som ficou martelando em looping na cuca pela noite inteira.
o que fiz? outra playlist, essa ainda mais trabalhosa, e a presenteei redondinha para o lugar em questão, que é um restaurante que também estimo muito.
a violet tem quase 27 horas, 444 músicas e só faz sentido escutá-la no modo aleatório. por que tão longa? porque foi pensada para agradar também a equipe, já que ninguém merece ouvir a mesma sequência todo santo dia. garçons, bartenders e cozinheiros por muitas vezes passam mais tempo no trampo que em suas próprias casas e devem ser tratados com a maior dignidade do mundo.
infelizmente o segundo lugar também cagou pra ação, essa que por sua vez é importante ressaltar que NÃO foi solicitada.
mas então qual foi o erro que me levou a essa dupla derrota?
diagnostico que o erro foi fruto sintomático da arrogância de achar que o que é bom pra mim é legal pros outros em casas que nem minhas são.
por quantas vezes atividades em que você trabalhou com um carinho feladaputa tiveram interesse nulo pra quem você gosta?
quando você fizer qualquer coisa pra quem ama, mantenha o foco na outra parte, não em ti. não faça com que um presente legal se transforme em reflexo de seu egoísmo. sejamos mais generosos em tudo que fazemos.
o que fiz com a playlist? a escuto enquanto escrevo essas parcas letras e ela também me acompanha pra cozinhar e comer geralmente sozinho aqui em casa.
afinal uma das maiores vantagens em cozinhar e fazer os drinques caseiros da casa é escolher som, luz e companhia que me agrade.
estou finalizando um livro com crônicas receitas e ontem testei frango com quiabo para 1, ficou bem gostoso. escutei a violet pra cozinhar e a sadness – playlist que fiz pra um bar que ajudei a montar e achei que passaria o resto das minhas noites naquele balcão, mas esqueci de combinar isso com os donos – pra comer. música boa me acalma.
estou no spotify como Jota Bê e se alguma dessas playslists servir pra você, saiba que elas foram compostas com o coração.
mas, se não agradar, nada é o fim do mundo. o que mais tem é música transante pra você curtir adoidado.
outros sons, outras batidas, outras pulsações. aqui, ali e em qualquer lugar.
por fim, se tem algo melhor que música ruim a isso podemos chamar de nada.
porque às vezes o silêncio é fundamental.
JB, no seu livro de receitas, que tal uma sugestão de música para cada prato? uma para quando for cozinhar e outra para quando for degustar o prato.
Realmente música ruim mata metade do prazer de frequentar um estabelecimento.
Ideia genial!! Ia ser do caralho isso
percebi que a playlist era boa quando vi arcade fire, se eu pudesse escutaria “wake up” todo almoço e janta.
grato pelas letras e pelos toques… muita sabedoria envolvida – e das boas, daquelas que não se iludem com pedestais
Texto espetacular!!! Já tive algumas “derrotas” como essas que vc relatou!! O que percebi é que as pessoas tem pouco interesse em conhecer músicas “novas” indicadas por outros, gostamos de ouvir as mesmas músicas sempre ou descobrir as próprias novidades… Mas eu vou te seguir e ouvir com carinho suas playlists!! Obrigado pelo texto e reflexão
Muitas vezes para fugir dessas situações de música ruim em ambientes que tenho certo apreço por frequentar, simplesmente levo meu fone e me entretenho nas músicas que acho necessárias para aquele momento.