quando comecei a frequentar o bistrô francês comandado por dois moradores do bairro eu iniciava o trabalho num blog gastronômico que se por um lado mudou a cena gastronômica da cidade por outro me rendeu inimizades e prejuízos cuja conta sigo pagando até hoje
se faria tudo de novo? sem dúvida que sim, e com muito mais força e convicção
mas, além dos haters de plantão, o trampo também proporcionou belas amizades e alguns hábitos
a cidade em que gosto de viver é a mesma do aldeão que prefere fazer suas coisas a pé e evita pegar qualquer tipo de condução
conforme se conhece o ramo as velhas novidades interessam cada vez menos e mais atenção é dada ao cotidiano
e foi com grande satisfação que me mudei pra perto desse bistrô o qual já critiquei por algumas vezes mas mantive amizade com os sócios
o tempo sossega a alma e hoje a zona de conforto me atrai um tanto
aprender a usar os lugares faz parte do jogo e ali passei a levar uma garrafa de bom vinho e jantar gostosas entradas
rã, frango frito, escargot, steak tartare e mexilhões
além do couvert bem cuidado
comida simples e bem executada, sem maiores pretensões onde vou e volto a pé
na rua paralela há uma padaria que me atende perfeitamente, desde o café torrado por eles mesmos até o delicioso croissant com requeijão na entrada, passando pelos bons sanduíches feitos de maneira tradicional
a maior parte dos lugares onde passei a juventude não existem mais e essas são algumas das novas referências onde passo o presente falando sobre o passado
infelizmente antes que você fale até o fim panificadora delícia real os dois logradouros retratados nesse texto já terão sido demolidos, graças a mais um empreendimento do cruel mercado imobiliário que trabalha de maneira desenfreada graças a governos que não se importam com o bem estar da cidadania
logo eu que evito ao máximo entrar num shopping center hoje vivo num lugar cada vez mais parecido com um aquário a céu aberto
sempre necessário dizer que somos privilegiados, pois a realidade marginal pode ser muito pior. o alçapão do inferno está aberto e não é possível ver o fundo e nem se existe verticalização pra baixo
de maneira que podemos considerar a zona de desconforto num mal menor
pois nos viremos com o que temos
porque vai piorar e não é pouco