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Hamlet Contemporâneo

No último sábado vi o show de Sir Paul McCartney no Maracanã ao vivo, só que direto do conforto da minha cama com a companhia do meu dog. Bom queijo e vinho branco completou o cenário. Programa de velho? Certamente. Mas é bom envelhecer.

Sabe quem tá envelhecendo também? Sim, ele mesmo, o Paul, que estava com a voz bem cansada nesse fim de tour.

Também, pudera. Afinal ele tem 81 anos. Só que não é qualquer um, é um Beatle com essa idade. E talvez o com maior musicalidade entre os quatro. E com uma banda fantástica. Se ele voltar pra essas bandas – acho pouco provável – lá estarei de novo. Mas em São Paulo, já que não tenho mais pique pra esse tipo de viagem.

Aliás, não usarei minha meia-idade como desculpinha, a real é que sempre fui mais reservado, nunca gostei de aglomeração. Nessa semana um bom amigo fez 50 anos e em vez de ir dar um abraço nele optei por ficar em casa sofrendo. Ontem deixei de ir no aniversário de outro que gosto bastante pra ficar em casa revisando meu novo livro que deve sair nos idos de março de 2024. E no próximo dia 31 quem faz 50 sou eu. Planos de comemoração? Vários. O mais audacioso era passar a data com 2 pessoas muito próximas no Japão. Claro que nem esse e nem outras ideias foram pra frente. Provável que fique em casa com dog, queijo e vinho. Repetir a Operação Paul, ver vídeos de shows na televisão, mesmo que antigos, sempre é programa razoável.

Penso, logo desisto. Quem tem esclerose múltipla ou convive com um portador da danada bem sabe o poder da fadiga e da indisposição.

Demorou um bocado pra eu fechar a porra do diagnóstico, mas uma vez que isso tenha ocorrido aprendi a tirar proveito de minhas limitações. É só saber lidar e tá tudo certo.

Outro programão é ver no youtube filmes dublados com Bud Spencer. É, acho que o natal também tá resolvido. Talvez compre uma torta de frango no La Cura e, se animar, preparo uma punhetinha de bacalhau.

Agora permita-me compartilhar um caso divertido e, parafraseando o grande cronista brasileiro, é isso que tenho que te contar.

Segundo minha ótica, no cenário brasileiro, o grande show de 2023 é o de Fausto Fawcett com Bianca Jhordão e Rodrigo Brandão. Inclusive em 2024 entrará em cartaz um filme sobre vida e carreira do bardo, quem sabe não se faz justiça a ele finalmente?

Junho de 2023, vi esse show num festival de filmes musicais – o bárbaro Inedit, do amigo Marcelo Aliche – e desde então recebi convite pra ir em mais alguns. Eu, um privilegiado.

Fiz o de sempre, aceitei o convite e desisti em cima da hora. Canista profissional, sou.

Mas quando vi que teria show num bar novo relativamente perto de casa apareci de surpresa, sem ligar pra ninguém etc.

O show foi impecável e reencontrei várias pessoas queridas, entre elas uma jovem editora de livros musicais – publicou no Brasil, entre outras coisas, ótimo “Fé, Esperança e Carnificina”, do Nick Cave – que cometeu a gentileza de me dar um livro interessante, com crônicas e críticas de dois manos de Uberlândia.

O local do show é cheio de escadas, luzes e ambientes, o que por vezes pode confundir um pouco esse ser com problemas de mobilidade que vos escreve.

Um dos corredores que vai do nada a lugar nenhum se assemelha a um camarim de cabaret, com luzes e espelhos.

Pois bem. Encostei no espelho e comecei a ler o livro, enquanto o show não começava. E preciso de beber um litro de vinho pra contar em público o fora que dei na frente do dono da boate. Talvez no próximo livro…

Fato é que me tornei o velho que lê um livro na balada. Aliás, sou do tempo em que balada era sinônimo de música lenta pra dançar com o rostinho colado em seu par.

E você, no que se transformou?

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