gente fina elegante e sincera

que me perdoe o bardo, mas eu NÃO vejo um novo começo de era

até porque essa maldita pandemia não mudou ninguém, pelo contrário, só acentuou as características das pessoas. ficou menos difícil separar o joio do trigo

porém não sou homem da cidade, sempre serei aquele garoto da lapa com quem provavelmente você não se interessa em compartilhar uma cerveja

ou um café, quiçá um copo d’água. entendamos a expressão tomar uma cerveja como mera convenção social e pra mim é um saco repetir isso por muitas vezes, creia-me. talvez esteja muito velho para o tempo em que vivemos agora

é natural o movimento que te leve a beber cerveja (ou café etc) com figuras menos desagradáveis que esse que vos escreve toda semana

acontece que nem todo pilantra se apresenta de maneira explícita e aí mora um perigo social

chegamos no tempo do novo canalha, tipo de vilão tão refinado que até nelson rodrigues teria dificuldade em classificar

muitas vezes munido de um boné do mst na cabeça ou uma ecobag embaixo do braço, o esquerdomacho em questão costuma trajar camisas com cerca de 2 botões fechados e até te paga uma cerveja, antes de se encostar silenciosamente no seu cotidiano, te sugando tal como um vampiro tropical

porque uma boca com fome de conteúdo e validação é capaz de dizer as gentilezas mais indecorosas pra agradar seus já tão exaustos ouvidos que por sua vez podem se tornar vítimas e acreditar em bem construídas anedotas por conta do evidente cansaço que fica ainda mais à flora embaixo desse calor camusiano que nos assola implacavelmente

eles sentem o cheiro de gente boa antes de abate-las como silenciosos abutres urbanos

e é num piscar de olhos que a sociedade inteira se deixa dominar por falsos bonzinhos que fingem concordar contigo em tudo, não sem antes abrir a porta do uber para seu suposto bel prazer

eu, aqui do alto da minha insignificância, já estou acostumado a ser o mano que concordam em privado e discordam em público, por muitas vezes me taxando cinicamente de escroto só por não ser falso e tratar o próximo sem infantilidades publicitárias. não é de hoje que não aprecio troca de tapinhas nas costas e embora não veja isso como sinal de falta de empatia é natural que você não queira dividir uma mesa no café comigo

e tudo bem de novo, a vocação para a solidão errante nunca foi problema pra mim

mas, após mais de um ano mandando essas notas pontuais cometerei a ousadia de te pedir um troço

a partir de agora você bem que podia agir com mais cautela com essa gente prestativa educada e agradável que nos cerca, né?

beijo e até a semana