por conta de muita incompetência digital perdi acesso não só ao meu antigo número telefônico móvel quanto também a minha lista de contatos
um dia antes, prevendo o óbvio incidente à vista, com auxílio luxuoso de esferográfica mais pedaço de papel branco, anotei os números mais importantes
passar o conteúdo do físico para o digital foi uma das primeiras tarefas que procurei cumprir assim que o problema ocorreu
a missão tinha tudo pra ser bem sucedida, só não contava com um mero detalhe
você entende minha letra? porque eu não
pqp
que derrota, que fracasso
comecei a passar os números errados pro celular e mandar mensagens para pessoas desconhecidas
não te conheço foi uma das poucas respostas quase gentis. a maior parte me confundiu com sequestrador ou algo do gênero e se manifestou de maneira menos educada
no fim optei por mandar mensagens diretas em outras mídias e as coisas até que deram razoavelmente certo nessa torre de babel que se tornou a comunicação eletrônica
descobri também que na real o número de pessoas com quem de fato preciso falar durante o cotidiano não chega a 10
a prova de que ficamos muito tempo nas mídias sociais é que corremos atrás de nossas rabas sem a menor necessidade. não temos hd pra suportar todo esse volume de informação e não tem nada de errado nisso
paremos de correr, não existe pote de ouro nem nada que valha após o fim do arco-íris
outra hora conto a expressão que o atendente da operadora telefônica onde comprei um chip dirigiu a mim quando disse a ele que sobrevivi mais de 10 anos sem conta em banco, na base de trabalho em troca de notas e escambo
o universo não vai acabar por causa da superdimensão que damos a problemas bestas, mas que nosso mundo particular pode melhorar com pequenas atitudes, ah isso pode.
ô se pode.