passar a infância nos anos 80 não foi nada nada mal
na rua jogava taco, queimada, futebol, bolinha de gude, rodava pião, soltava balão galinha, entre outras coisas
como nada é perfeito, o aniversário em 31/12 era inevitavelmente longe dos comparsas da rua, por motivos óbvios
além disso a família sempre passava esse tal de réveillon em casa. uma gente mais velha que não tinha a menor comunicação comigo
a pior parte da festa ocorria após a meia-noite, quando parente por parente vinha até mim pra dizer que o aniversário já acabou agora só ano que vem…
mas claro que tem mais, eu ganhava presentes
e que presentes!
não sei de onde minha mãe tirou que abrir um pacote de presente na frente de quem deu é o cúmulo da falta de educação, mas foi assim que ela me educou
cada caixa recebida eu agradecia de cabeça baixa e a colocava em cima da cama do quarto de dormir
conforme a noite seguia a curiosidade aumentava, embora todo ano fosse igual
lá pelas tantas da madrugada, após o último convidado cambaleante se retirar era chegado o meu momento
bola? ferrorama? aquaplay? war II? time de botão? quiçá um novo atari?
não, claro que não
meias, shortinhos, camisas polo (!!) e cuecas, muitas cuecas. zero brinquedos. é como se a família me visse como um mini-amoêdo.
no fun
na volta do ano letivo os amigos ostentavam histórias sobre viagens praianas e eu não tinha muito o que trocar
acabava que focava ainda mais nos jogos vorazes de rua e compensava a frustração de aniversário com várias vitórias nas coisa tudo. já disse que me diverti adoidado nesses tempos, né?
décadas se passaram e hoje a solidão nessa época do ano é uma opção. poucas e boas companhias são mais que suficiente e que bom que as tenho. deus me dibri da fila do pão em maresias
não sou do mar, sou do bar
boas festas pra ti. que você consiga aproveitá-las da maneira que achar mais conveniente
não estou otimista em relação ao ano que chega, mas espero estar errado
é raro acontecer, mas dessa vez prefiro ser feliz a estar certo
boa sorte pra nós
Eu, eis a única diferença, ganhava os presentes em junho, mas, ao que parece, nossa infância foi bem parecida. Além das meias e cuecas, tinha o Ki-Chute novo – que afinal fazia valer a espera.