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A crise é antes de tudo estética.

Quando comecei a blogar, nos idos de 2007, respeitava mais essa tal de língua portuguesa, tão maltratada por tantos.

Nessa época me chamava a atenção um blog em especial – o saudoso carne crua – que só usava letras minúsculas em suas boas postagens.

Um pouco de pesquisa me mostrou mais algumas poucas e boas contas que usavam e abusavam desse tipo de recurso estilístico. 

Isso num mundo onde sequer sonhávamos no papel que o aparelho celular cumpre hoje no cotidiano humano médio. Foi antes de ontem, mas parece coisa do século passado.

Fato que gostei do estilo e a partir do segundo blog – o Edifício Tristeza, que encerrei as atividades por ter publicado um livro homônimo – adotei o estilo, comprando assim algumas brigas com os ditos sommeliers de língua portuguesa, esses que por sua vez quase em sua totalidade não reparam na imensa falta de vírgulas que habitam o vazio desse mar de letras.

Além de achar bonito, creio que grande parte dos famigerados internautas falam alto e demais, e não usar maiúscula é estratégia pra colocar a bola no chão, levantando a bola só quando estritamente necessário. Essa educação vem de casa, já que meu pai nunca precisou gritar pra me educar.

Ok, admito que por vezes ele dava um ou outro tiro para o alto, mirando postes com seu 38, mas essa é outra história. Até porque esse tipo de ato não fazia parte assim do seu cotidiano. E não é sobre quietude com picos destoantes que estamos falando?

Sei que às vezes saio do tom com devaneios familiares que ainda me assombram, mas voltando ao tema da postagem, você sabia que levei a escola desse estranho tipo de quietude para a literatura, publicando um livro de receitas crônicas em homenagem à diva maior Nina Horta, escrito apenas com letras minúsculas?

Pois bem. Acontece que ao revisar meu novo e singelo livro – a ser publicado no primeiro semestre de 2024 – deu uma espécie de tilt no aplicativo que uso para escrever, de maneira que não consigo mais deixar o microcomputador no modo minúsculo automático.

E não é que gostei do resultado? Especialmente nessa época sombria que maltrata tanto nossos olhos com dancinhas, vozinhas infantilizadas em off e conteúdos ordinários que cavam com velocidade cada vez maior para além do fim do poço.

Meu próximo livro deve ser um pouco menor, é autobiográfico – o considero como uma trilogia iniciada com Dias de Feira, continuada com Edifício Tristeza e finalmente encerrada em 2024 – e é bastante provável que seja minha última publicação. Só escreverei mais se considerar que de fato tenha mais algo a dizer.

E já falei bastante sobre os mais sortidos temas aos quatro ventos pro meu pequeno, porém valioso público o qual respeito um bocado e não pretendo queimar o filme.

Por fim, talvez meu quarto de século já tenha passado e é coerente que comece essa jornada de despedida da mesma maneira que a iniciei.

Por isso a volta das maiúsculas aqui nessa troca semanal. No restante das mídias eletrônicas continua tudo igual, pelo menos por enquanto. Espero que me entenda.

Beijos no coração e até a semana,

j.

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