hoje faz anos a cidade que escolhi pra viver. a são paulo que mais aprecio é aquela tão bem retratada por joão antônio, começando no terminal luz e percorrendo a linha do trem até chegar em, veja só, osasco, estação presidente altino. se o percurso tivesse ladeira, não teria jogado tanto futebol e queimada ao seu redor. bons tempos.
esse ano deve ser ainda mais torto que o anterior e foi bom conseguir se manter na área. da minha janela contemplo o elevado e penso como seria daora se fosse viável a construção do planejado parque que parece nunca sair do papel.
na sala rodeada de plantas pretendo erguer um pequeno móvel, pra fazer o papel de bar, onde quero fazer vídeos sinceros e receber um ou dois convidados de dentro do meu tão pequeno círculo de convivência.
como é preciso sobreviver, penso em abrir uma porta pra vender frango frito com alegorias e adereços. mas, além de aporte financeiro, é necessária certa disposição física que sinceramente não sei se tenho disponível no momento, é preciso dar uma checada no estoque.
no momento em que escrevo essas parcas letras adolescentes andam de skate no elevado com saltitantes cachorros ao lado, eles nunca saberão como essa cena me envelhece 10 anos a cada 10 minutos.
mas o que quero dizer é que aqui no meu pedaço tem um senhor de bengala que anda pelas ruas impecavelmente trajado com camiseta branca e um roupão vermelho por cima. sempre só, às vezes estica na rua sua bengala de frente pra um taxi qualquer que para ele tal como um súdito. se eu envelhecer com metade dessa autoridade será deveras engraçado.
agora passou uma moça andando de patins com uma velocidade que você não ia acreditar. dessa ciclista nenhum rouba o celular, é fisicamente impossível.
embora seja um tanto sem graça cozinhar apenas pra mim mesmo, hoje retornei à cozinha. fiz um espaguete com camarão, guanciale, alho, cebolinha, gengibre, pimenta e um karasumi que demorei tanto pra comer que já virou bottarga, dada a cura alcançada. mas ficou gostoso e cozinhar me faz bem, assim como regar plantas e cuidar do meu cachorro.
que todos tenhamos singelos momentos de paz, dentro dos nossos microcosmos particulares.