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adivinha quem vem para jantar?

meu pai morreu com apenas 41 quando eu não tinha mais que os 20 e poucos anos que fabio jr ainda insiste em glamourizar lá naquela bolha tão distante de um mundo possível. defendo a teoria de que seu falecimento acelerou a partida da minha mãe, morta de tristeza algum tempo depois, aos 59, após passar os últimos dez anos de sua vida tal como um zumbi na terra.

escrevo essas linhas do alto das minhas 47 primaveras e considerável quantidade de problemas de saúde que não vem ao caso agora. a sensação é a de que esteja no auge do outono da vida e os planos são de um inverno tranquilo, isso se a vida não me atropelar antes.

porque a pandemia que nos abate agora mostra mais uma vez que planos de pouco adiantam. enquanto planejamos trabalho e uma utópica aposentadoria milhões de mortos pela nova peste zombam da nossa ingenuidade.

então, já que o mais prudente agora talvez seja viver um dia de cada vez, podemos perguntar para onde vão os mortos?

se você já me conhece ao menos um pouco bem sabe que sou cético e deveras simpático ao ateísmo. a razão da existência desse texto passa a milhas de distância de um deus sarcástico e barbudo que zoa legal com o destino de seus supostos filhos.

recorro novamente a frase do professor luiz antônio simas, que diz sabiamente que “morte é esquecimento” pra acrescentar na humildade uma colocação.

o meu ponto é que morte e vida estão no mesmo balaio, eles estão todos ao nosso redor. ninguém entra, ninguém sai.

eu sou meu pai, minha mãe, o magnífico miranda, o amigo gelson a quem dediquei meu segundo livro, os cães que já cuidei e mais um monte de seres. trago comigo parte de suas vivências e hoje eles vivem no meu apartamento dançando e bebendo drinques caseiros da casa.

seremos lembrados como a geração que passou por uma crise que deixou milhões de mortos. cabe a nós não deixar que essas tantas vidas tenham sido em vão. viva bem dentro do possível e cuide dos seus. honremos todas as vidas.

que fique aqui registrado meu máximo respeito aos vivos, aos mortos e aos nossos fantasmas.

beijo e até semana que vem,

3 Comments

  1. Fica bem J.
    Meu pai se foi aos 53. Enfisema. Mas estava zoado por causa do álcool muito tempo antes.
    Tenho 45, obeso e uns vícios pra lidar também.
    Mas espero ir bem mais longe. E espero que você vá também.
    Tem muita comida pra comer e bebida pra beber no mundo ainda!

  2. Jota, respeitar a memória dos nossos é dar dignidade a nossa existência. É um propósito é tanto em tempos brutos. Ter a dimensão do que está ao nosso alcance é para poucos, parabéns!

  3. Cara, eu te vejo no youtube e confesso que sinto uma aproximação. Não por absolutamente nada: não sou em nada parecido com você. Mas acho que temos uma joie de vivre discreta, que nos faz encarar bem o mundo bizarro que penamos.

    Gostei muito de ver seu site aqui. Espero um dia publicar minhas crônicas também.

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