noite dessas em frente ao balcão de um bar qualquer enquanto eu bebia aquele velho copo de cerveja bosta um sujeito inconveniente me interceptou abruptamente perguntando qual era a minha
respondi que o plano da noite era acabar de beber a cerveja e comer a coxinha da espelunca que era muito boa acompanhado de mais uma garrafa e nada mais, sem ninguém conversando comigo
claro que o sujeito sem semancol estendeu o diálogo que não deveria existir e explicou – como se eu não tivesse entendido sua pergunta inicial – que na verdade queria saber qual era a minha com meu trabalho nas mídias gastronômicas, mais especificamente no youtube
respondi que se alguém passou a comer e beber pelo menos um pouco melhor com minhas palhaçadas, já tava de bom tamanho
mas algumas receitas lá não são boas. e tem lugar que tu elogia por lá que eu não gosto. o mala insistiu em continuar o papo
receitas de guerrilha no meio de uma pandemia. disse e emendei a resposta. assim como tem bar e restaurante pra todo mundo, estranho seria se todos concordassem com tudo, felizmente esse nunca foi o plano. se eu conseguir a pretensiosa meta de despertar o desejo de pensamento alheio, pra mim já tá bom. e se provocar apenas a sensação de riso, só esse feito é extraordinário
mas como que dá dinheiro? tu vive de que? a inconveniência do cabra já tava beirando o surreal. mas o bebum mala de balcão desconhece o senso de noção de limite
eu vivo de amor, meu caro. e do ar que compartilhamos. dinheiro jamais é meta no meu trabalho, mas sim consequência. sobre atividades internéticas, sempre gastei mais que ganhei, nunca almejei esse tal de profissionalismo. se pudesse voltar no tempo, faria tudo igual ou seria ainda mais punk. ou até mesmo não faria nada, pra não ter que aguentar sujeitos como você. às vezes tenho saudade do meu anonimato
grosso. com esse xingamento infantil ele encerrou o papo. com a percepção que a última palavra era muito importante pra ele, preferi não replicar e voltar à paz de espírito da cerveja gelada com salgado quente
porque senão a chatíssima conversa não terminaria tão cedo, já que ele mal me ouviu. o mundo virou uma mensagem de áudio sem fim onde as pessoas acham que seu tempo é mais valioso que o da vítima mais próxima
então trago cinco dicas pra semana. meio óbvias. mas não custa nada ressaltar
- dê preferência para os cantos do balcão. com isso teoricamente elimina-se cerca de 50% de chance de aproximação de um mala sem alça
- evite contato visual. foque na bebida e na comida. se não estiver só, não olhe pra outra pessoa que não seja sua companhia. às vezes um mísero boa noite já é motivo suficiente pra começarem a tagarelar ao seu lado
- trate bem quem te atende pra ter bom tratamento. além do mais, a equipe do bar pode ser fundamental pra afugentar alguém com atitude mais abusiva
- evite horário de pico. se você não for um privilegiado de merda como eu que pode beber às 15h de uma terça-feira, chegue na hora de abertura dos bares
- mesmo assim, se policie de todas maneiras possíveis. eles sempre estarão um passo a frente e você pode ser a próxima vítima
mas e tu? acha que vale o risco de dar atenção a quem não conhece? até onde vai o seu cristianismo?
beijo e até a semana,
j.