O ano de 2011 não foi bom pra mim em nenhum sentido. Me desfiz porcamente de um restaurante que gostava muito e inclusive levei calote de 100% na operação de venda por parte da compradora que deu o golpe na praça carbonizando o meu nome. Até hoje não me recuperei do prejuízo financeiro e nem do moral.
Mas não foi só isso. Teve também um término de relacionamento bem triste e, o pior de tudo, a perda da minha mãe, que relatei no meu primeiro livro.
Quase sempre tem um shopping horroroso no meio do caminho entre a casa e o hospital e foi num desses que adquiri o relógio que trago no pulso até hoje, torrando assim o limite do meu último cartão de crédito.
Desde os dias de feira – quando tinha hora certa pra entrar com o caminhão e pra vazar da rua – tenho uma relação especial com o tempo, coisa de quem não tem nenhum superpoder e se apega à disciplina. Na real gosto da ilusão de controle que o relógio de pulso me proporciona.
Faz mais ou menos um mês que a pulseira dele quebrou pela segunda vez. Na primeira levei pra consertar num velho relojoeiro locado no fundo do balcão de uma óptica na Alameda Barros. Ele me cobrou só cincão e saí de lá deveras satisfeito com o serviço pelo qual pagaria mais.
Não sei explicar a razão pela qual estou sem graça de voltar a esse lugar de onde trago boas lembranças. Talvez porque tenho pânico dele pensar que eu acho que meu tempo vale mais que o seu. De qualquer forma, passo na frente da loja cerimoniosamente todos os dias, qualquer hora dessas entro de novo pra resolver a parada.
Como evito ver a hora no celular tenho me guiado pela luz do Sol, o que se apresenta como tarefa um tanto ingrata nessa cidade cada vez mais poluída.
De maneira que adianto que posso vir a me atrasar em um ou outro compromisso próximo e peço perdão desde já pela pisada na bola, porque não é do meu feitio cometer esse ato horroroso.
Se eu te falar o número de trabalhos descontinuados por discordância sobre o papel de tempo e espaço tu não ia acreditar.
A briga atual é com o Correio e seu serviço pouco delicado, mesmo assim menos ruim que o lixo da logística de transportadoras, que beira a má fé.
Próximo do lançamento de novo livro, mal tenho dormido de tanto nervoso diante da possibilidade de atraso na entrega dos exemplares vendidos na pré-venda, diferente do editor que esbanja tranquilidade.
Nessa semana segui a dica de uma amiga e comecei a tomar microdoses de ayahuasca pra me ajudar a dormir. O resultado foi que além de seguir com o sono torto agora me lembro com detalhes de cada pesadelo sofrido. Ontem mesmo sonhei que estrangulava três gansos enquanto o fantasma de minha mãe se enforcava no meio da sala de estar no último apartamento onde moramos juntos, no Alto da Lapa.
Talvez até maio tenha resolvido a questão do relógio, não sei. Por enquanto tenho me contentado com a contemplação do balcão de bar sem o pequeno objeto em questão.
Assim que estiver com ele novamente em mãos adiantarei os ponteiros pra ver se consigo que 2011 finalmente termine em 2024.