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picanha à moda da casa

Há mais de quinze anos jantava num restaurante na Vila Madalena quando minha companheira de mesa pediu ketchup para acompanhar seu cheeseburger.

Além de não atender o simples pedido solicitado, o garçom nos presenteou com uma lição de moral de perder o apetite de qualquer um, com argumentos falaciosos sobre estragar o blend do chef etc

Lembrei do causo na semana passada, quando um amigo me contou que sua esposa ousou usar talher para comer um sanduíche no mesmo bairro – que se foi boêmio um dia ninguém lembra mais – e o garçom teve um chilique de prontidão na frente de todos os clientes do salão. 

Atitude infeliz, já que a vítima em questão é uma senhora sexagenária que tinha acabado de operar a boca e precisava de agir com certa delicadeza no ato de comer.

Quando o atendente em questão tenta aplicar a lei universal de etiqueta de sanduíches ele olha apenas para o cheeseburger, pouco se importando com quem está comendo.

Corta pros idos de 2018, mais precisamente pro bar de alta coquetelaria que ajudei a montar no centro paulistano, onde servíamos apenas cocktails clássicos e os chamados forgotten classics num prédio que é cartão postal na cidade frequentado por turistas de toda espécie.

Durante minha gestão jamais servimos coisas tais como aperol spritz, cosmopolitan e caipiroska. Porque decidimos que é melhor fazer uma coisa bem feita que um monte de troço meia boca. Além do mais o bar é minúsculo e quem tem que agradar a todos é dj de formatura. Nossa equipe falava dezenas de NÃO por noite, mas quase sempre com sorriso no rosto e apresentando alternativas para atender diferentes tipos de paladar. Mas, mesmo com muito treinamento e boa vontade, admito que às vezes falhávamos na arte da hospitalidade. Quem está à frente do negócio agora é gente muito competente e estimo boa sorte à equipe. Porque infelizmente ainda há quem leva uma negativa como ofensa pessoal e acha que o cliente sempre tem razão, que se tá pagando pode ter o que quiser etc

Em compensação, na última quinta marquei com uma amiga para jantar em prestigiada churrascaria paulistana.

Cheguei com 40 minutos de antecedência e compartilhei com o gerente suas restrições alimentares e hábitos.

O que foi suficiente para ela ter um tratamento de rainha e sair do lugar plena e satisfeita.

Portanto faço um alerta para os colegas de trabalho de restauração, tantas vezes com o ego mais inflado que de vocalista de hair metal oitentista.

Nosso serviço não se limita a bebida e comida. Tenhamos mais atenção com as pessoas que atendemos. 

Da porta mais simples até o salão classudo, restaurante é feito para restaurar quem te sustenta.

E saco vazio não para em pé.

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