o ponto alto da semana foi a visita surpresa do tijucano exilado em copacabana eduardo goldenberg
pude leva-lo a alguns lugares que gosto bastante, com destaque ao novo bar onde elaborei a carta de drinques junto com outro bom amigo, danilo nakamura, aquele que saiu da grande sarandi para conquistar o mundo. o dia que se emendou com a noite contou também com a espirituosa presença do melhor fruto que catanduva já produziu, aquela pra quem dediquei meu livro sobre coquetelaria, daniela garutti. escrito esse que tem brilhante prefácio do danilo. aliás bom lembrar também que publiquei com o próprio ilustre visitante um livro de troca de cartas que aprecio bastante. por essas e outras que insisto no chavão que o círculo sempre se fecha
mas há momentos que grudam na memória tal como um retrato na parede e isso não posso deixar de te contar.
clara é a noite e eu gosto mesmo quando ela se transforma na madrugada
pois então o cenário é a única mesa na calçada que desemboca na destemida lanchonete libanesa boêmia. 3 cadeiras ocupadas. além desse que vos escreve, o sobrevivente edu – com certo sono, pois estávamos na ativa há algum tempo, já que começamos o expediente com almoço regado a ótimos vinhos no excelente elea forneria, na zona norte paulistana – e o príncipe sambista da barra funda, arthur tirone, favela para os mais chegados
além do samba, a barra funda também é conhecida pelo futebol de várzea e quem é da bola disso bem sabe. inclusive o próprio favela ainda atua no time do anhanguera, clube em que wilson das neves já se apresentou
entre amigos, comenta-se que no milênio passado joguei como goleiro em futebol de campo lá pros lados do jaraguá e favela – só ele, porque a essa altura o outro integrante já dormia o sono dos justos em cima do delicioso shawarma de fígado de frango que ele mal aproveitou. assim como estou para a noite, edu vive o dia, e assim chegamos a uma curiosa espécie de equilíbrio – me pergunta se afinal eu mandava bem ou não por baixo das traves. penso um pouco, respiro fundo e respondo
olha, favela. espetáculo eu sempre dava. pro bem ou pro mal. de bom eu tinha o reflexo, liderança e visão de jogo. ah! e nunca tive medo de chuteira na cara, isso é essencial pra sair bem na pequena área, elimina boa parte de chance de gol adversário. gritar também é bom, não confie em goleiro calado. se berro MINHA! é porque é minha, sem zagueiro tropeço batendo sua cabeça de boneco de olinda nas minhas mãos. agora de ruim rolava o seguinte. eu atuava adiantado e como se isso não bastasse sempre tava de perna aberta. aí já viu, né? como vendia frango na feira na mesma época a piada era óbvia. no saldo final posso falar que a maior colaboração que dei pro futebol foi minha ausência. mas sou frangueiro até hoje e ainda não tenho medo de chute de valentão.
no dia seguinte vem o baque da notícia da morte de um amigo muito querido
com sua nobre família, lucio san atuava em são paulo no ramo de izakayas e poucos dominam a arte da hospitalidade como ele que já faz uma falta danada
por um problema de saúde não pude ir ao velório e hoje não sei como encarar a família que é bem chegada minha há muitos anos. mas me sinto desonrado por não estar presente num momento em que todo apoio é importante de alguma forma
e também mal por não ter aproveitado mais a companhia daquele que se foi tão precocemente
assim como ainda sinto o gosto do último cigarro de palha não fumado com felipe ehrenberg, amigo sobre quem falei no texto passado
mês que vem tem lançamento de novo livro do marião (aka bortolotto) na livraria ria e já marquei o compromisso na agenda de papel que comprei nessa semana de uma moça que tava no tabuleiro do acarajé e me olhou de maneira ameaçadora porque meu dog a assustou com latida marota
lucio san era super vacinado – ia pro japão com frequência. numa das viagens me trouxe um coqueteleira linda, que uso com muito carinho – mas faleceu de covid 19 na mesma semana em que soube que um amigo próximo – rodrigo macedo, autor das fotos da mão que balança o copo – e dois conhecidos também contraíram o vírus. o efeito das vacinas tudo tá passando e no momento ocorre uma nova onda silenciosa e mortal. se duvida disso olhe com atenção ao redor do seu próprio círculo
cuide-se, livre-se de gente ruim e prestigie as verdadeiras amizades. porque você nunca sabe quando vai acabar.